Decifrando Carolina Herdy

Quero começar com um Feliz Natal para todos. Independente de sua religião, acredito que o Natal tenha uma simbologia especial, e seja lá no que você acredita, Feliz Natal.
Essa semana eu vou falar de um presente que eu recebi. Um presente não material. Foi uma conversa que eu tive com uma pessoa. Nessa conversa ela me esclareceu algumas dúvidas ao qual eu não possuía conhecimento. Esse presente me fez bem e quero compartilhar com vocês.

Costumo sempre visitar o site da Liga dos betas para compartilhar com os usuários do Nyah! Fanfiction os artigos que eles publicam. E então eu encontrei o texto da Carolina Herdy. O deficiente visual e a Liga dos Betas.
Nesse desabafo, Carolina conta rapidamente sobre sua entrada na Liga dos Betas do Nyah! Fanfiction. Até aí sem surpresas, mas Carolina é deficiente visual. Eu li o texto e fiquei com muitas dúvidas, entrei em contato com Carolina e então tivemos uma boa conversa.

Quando entrei em contato com ela, fiquei receosa de achar que sou uma intrometida, mas Carolina foi extremamente gentil em tirar minhas dúvidas.
Ela me contou que no site Nyah! Fanfiction existem outros deficientes visuais, e eu não tenho conhecimento de quantos ou quem são. Mas é algo que gostaria de saber.

“Sabe, conheço outro deficientes visuais que frequentam o Nyah e se sentem inseguros para participar mais como enviar reviews ou, postar histórias ou, até mesmo, participar da Liga. Por isso achei bacana eu tomar essa iniciativa.”

“Tive um descolamento de retina e perdi mais visão. Até então, eu tenho resquícios de claridade do olho direito. Enxergo apenas borrões descoloridos e indistinguíveis. Uso óculos porque a luz me incomoda profundamente, uma vez que, em uma das operações que precisei fazer para pôr a retina no lugar, retirei o cristalino. E eu tive uma má formação congênita, daí a visão limitada...”

E também gostaria de saber sobre sua escolaridade. Pode parecer bobagem, ou não, mas eu nunca tive um contato pessoal com um deficiente visual para fazer essas perguntas, que ao meu ver, é uma curiosidade geral. E a Carolina me deixou ainda mais curiosa depois disso.
“Terminei o ensino médio ano passado. Estudei em uma escola especializada em deficiência visual até 2009, o Instituto Benjamin Constant aqui no RJ, e cursei o ensino médio em uma escola regular. Fiz o ENEM também ano passado e não tive sucesso em conseguir uma vaga pra Letras, dada a imensa concorrência. Daí nesse ano eu tentei de novo, não só o ENEM, mas também outros vestibulares. Ainda não divulgaram a pontuação, mas eu estou bem confiante... Você não perguntou, mas eu acho bacana dizer que os vestibulares disponibilizam ledores – pessoas que leem as provas para nós – e o ENEM também disponibiliza a prova em Braille. Ah e sim, eu fui alfabetizada em Braille.”

(Máquina de escrever Braille)

Braille ou braile1 é um sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827 em Paris.
O Braille é um alfabeto convencional cujos caracteres se indicam por pontos em alto relevo. O deficiente visual distingue por meio do tato. A partir dos seis pontos relevantes, é possível fazer 63 combinações que podem representar letras simples e acentuadas, pontuações, números, sinais matemáticos e notas musicais. – Fonte Wikipédia.

Comentei com Carolina sobre eu não ter tido muito contato com deficientes visuais, senão na rua, em casos específico. Como por exemplo no ponto de ônibus, metrô, atravessando a rua e etc.

“Não te culpo por não ter contato com outros deficientes visuais. Somos muito reclusos às vezes. Aliás, uma pessoa que se julga "diferente" tende a ficar fechada com aqueles que são "iguais" a ela. Isso me incomoda, sinceramente. Acho que a acessibilidade poderia ser bem maior se todos tivessem mais contato com os que precisam dela.”

E claro, eu quis saber sobre seu futuro, no que ela pretendia trabalhar, já que deseja fazer a faculdade de Letras.

“Eu pretendo lecionar. A ideia é lecionar em universidades, mas o ensino médio não deixa de ser uma opção. Também pretendo escrever. Clarice Lispector disse, certa vez, que nunca se considerou uma escritora profissional. Acho que entendi o que ela quis dizer. Você me perguntou que carreira pretendo seguir e eu respondi. Mas pretendo escrever e publicar romances, quem sabe vender algumas crônicas.”

Essa conversa me fez bem, primeiro porque fiz amizade com alguém muito gentil. Eu adoro uma boa conversa. E também porque Carolina me deixou a vontade de falar sobre sua deficiência. As vezes você fica sem jeito de entrar nesse assunto com alguém que não tem intimidade, mas o melhor a fazer, quando não se sabe a resposta, é perguntar.
Em nenhum momento fiquei com pena de Carolina. Aqui eu encontrei uma pessoa bem segura e inteligente. Uma pessoa que não se limita, utiliza a tecnologia disponível para seu benefício próprio. Nós somos todos diferentes, mas essa diferença não pode nos afastar, ao contrário. Eu agradeço a oportunidade e estou pensando em chamar ela para ir almoçar lá em casa, já que moramos no mesmo estado. Aliás, queria muito reunir várias pessoas do Nyah! Fanfiction que moram no Rio de Janeiro para um encontrão, mas isso é um outro assunto.


Separei aqui alguns links para leitura complementar.

Revista Mundo Estranho – Como os cegos usam a internet?



Comentários

  1. Adorei o post, fiota. A Carol é uma excelente beta e uma excelente pessoa. Gostamos muito dela e esperamos que ela dure muuuito tempo na Liga. Nos divertimos bastante. Se você for armar esse encontrão, me avisa que eu corro para o Rio hahahaha, há muitos betas da Liga aí e deve ser legal um encontro haha =D

    Obrigada pela força sempre e obrigada por compartilhar a história da Carol que é um exemplo para muita gente. =3

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  2. Ooooown que linda! O post ficou totalmente fiel à nossa conversa e muito bacana. Obrigada mesmo pela força, viu? Espero mesmo que ele quebre o gelo e que as pessoas tenham menos medo de se aproximar de um deficiente quando o ver na rua. A galera pode até prestar mais atenção em uma coisa: perceberão que eu sou a referência de um dv para vocês, mas existe gente muito mais independente que eu, com outras ideias, outros desejos, outras formas de enxergar a vida. Não falo num sentido negativo, pelo contrário.
    Ah! E quanto ao almoço... xD Eu topo, viu? O encontrão também!
    Beijos e obrigada de novo.

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  3. Atoron hahahaha, como boa surda e "muletante" que sou, defensora da acessibilidade e ser humano, adoro esse tipo de artigo e se tratando de uma amiga (a Carol) é mais legal ainda =D

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  4. É a primeira vez que entro no seu blog e, gostei muito e achei superinteressante. Para ser sincero eu não imaginava que existiam deficientes visuais no Nyah! ou alguns outros sites – quanto mais ser uma Beta. Sei que existem maneiras, mas nunca parei muito para pensar ou me aprofundar no assunto! Se for fazer um encontrão me avisa seria legal :)

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